Você sabia que o que colocamos no prato pode afetar diretamente o que sentimos? Ansiedade, depressão, oscilações de humor, falta de energia — tudo isso pode ser influenciado não apenas por fatores emocionais ou genéticos, mas também pela forma como nos alimentamos.
Durante anos, a saúde mental foi tratada separadamente do corpo físico. Hoje, sabemos que mente e corpo são indissociáveis — e a nutrição tem um papel central nessa conexão. Como psiquiatra, vejo cada vez mais evidências de que uma alimentação equilibrada pode ser uma aliada poderosa no cuidado com a saúde mental.
Como a alimentação afeta o cérebro e o humor
Nosso cérebro é um órgão exigente. Ele consome cerca de 20% da nossa energia diária e depende de uma oferta constante de nutrientes para funcionar bem. Aminoácidos, vitaminas, minerais, ácidos graxos e carboidratos de qualidade são “combustíveis” que impactam diretamente neurotransmissores como serotonina, dopamina e GABA — os responsáveis pelo nosso equilíbrio emocional.
Quando há carência de nutrientes essenciais, o cérebro sente. Estudos já mostraram que dietas pobres em magnésio, vitamina B12, ômega-3, ferro e zinco, por exemplo, estão associadas a maior risco de depressão, irritabilidade e sintomas de ansiedade.
Incluir certos alimentos na rotina pode ajudar a manter o equilíbrio emocional e dar suporte ao tratamento psiquiátrico. Veja alguns exemplos:
- Ômega-3 (peixes gordurosos, sementes de linhaça e chia): anti-inflamatório natural, atua na melhora do humor e da memória.
- Triptofano (ovos, banana, castanhas): precursor da serotonina, neurotransmissor do bem-estar.
- Magnésio (espinafre, abacate, amêndoas): ajuda a controlar a ansiedade e promove relaxamento.
- Vitaminas do complexo B (grãos integrais, legumes, carnes magras): essenciais para a função cerebral e produção de energia.
- Probióticos e prebióticos (alimentos fermentados, fibras): fortalecem o intestino, que se comunica diretamente com o cérebro através do eixo intestino-cérebro.
A dieta aliada no tratamento psiquiátrico
É importante dizer: a alimentação não substitui o tratamento psiquiátrico. Mas ela pode potencializar os resultados, melhorar o bem-estar e até ajudar na resposta aos medicamentos. Em quadros de ansiedade, depressão, transtornos alimentares e bipolaridade, um plano nutricional individualizado faz parte de uma abordagem mais eficaz e integrada.
Além disso, manter uma rotina alimentar com horários regulares, evitar jejuns prolongados e reduzir o consumo de açúcar e alimentos ultraprocessados contribui para a estabilidade do humor e do sono.
Assim como alguns alimentos nutrem o cérebro, outros podem sabotá-lo. Excesso de açúcar refinado, cafeína, álcool, gorduras trans e aditivos artificiais estão ligados à inflamação cerebral, alterações no humor e piora de sintomas psiquiátricos.
A famosa “compulsão alimentar emocional” também merece atenção, especialmente em períodos como o verão, em que há mais exposição social e cobranças estéticas. Comer com equilíbrio, sem culpa e com consciência do que sentimos é parte do cuidado emocional.
Cuidar da mente também é escolher bem o que vai ao prato
Saúde mental é um processo multifatorial. Mas entre consultas, terapias e medicações, um gesto tão simples quanto escolher uma refeição colorida e nutritiva pode ser um passo poderoso para o equilíbrio emocional.
Se você sente que seu humor está instável ou que a ansiedade tem afetado sua rotina, converse com seu psiquiatra. Integrar a nutrição ao tratamento pode ser o diferencial que você precisa.
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